OS LIMITES E A COMUNICAÇÃO

"Muitos pais e educadores se perguntam do que as crianças precisam mais, de limites ou de mais comunicação?

As crianças que não têm limites nos deixam exaltados e somos obrigados a nos deter e a nos observar. Na maior parte das vezes descobriremos que somos nós, os adultos, que estamos limitados a nossa capacidade de introspecção e comunicação com nós mesmos e com os demais. Algumas perguntas dão sentido à nossa vida cotidiana, como “o que sinto, onde vou e o que é importante para mim?”. Se soubéssemos transmití-las, as crianças teriam maiores condições de nos compreender e poderíamos chegar a acordos satisfatórios a todos. Quando os adultos têm dificuldade em reconhecer com simplicidade e senso lógico uma necessidade pessoal, tampouco conseguem compreender a necessidade específica do outro, menos ainda se tiver sido formulada em um plano equivocado. Sem que percebam, pedem o que acreditam que será ouvido, e não aquilo de que realmente precisa. A psicóloga Laura Gutman chama este fenômeno tão frequente e usado por todos nós de 'pedido deslocado'. Por exemplo uma mulher precisa que o marido a abrace e lhe diga o quanto a ama, no entanto pede que ele vá ajudá-la a arrumar a casa ao invés de explicar sua necessidade. Então surge o mal-entendido, sentindo-se incompreendida. No plano emocional, quando não sabemos ou não podemos explicar o que está acontecendo conosco, obviamente torna-se mais difícil alguém nos satisfazer. Em relação às crianças, essa situação é tão recorrente que a vida cotidiana pode se tornar em um campo de batalha, não se sabe bem com quem... E que muitas vezes é rotulado como falta de limites. Quem nunca viu uma situação em que uma criança pede uma bala e sua mãe compra, mas logo pede outra e a mãe não dá, então o choro torna-se intolerável. Nesse caso, a criança se viu desprovida de mãe, pois não se trata da bala e sim um pedido deslocado. Considerando o que aconteceu cinco minutos antes do conflito, constataremos que na maioria das vezes a mãe não estava conectada . Antes de rotular atitudes de uma criança, é importante a reflexão de quem está com ela, pois algo a impossibilita de explicar aquilo que genuinamente necessita. A criança usa o mesmo sistema confuso de pedir o que pode ser ouvido e não aquilo que de verdade deseja. O que incomoda é sempre prioritário aos olhos dos demais. Assim, a questão de limites pode ser, por muitas vezes, um falso problema, pois não se refere à autoridade e firmeza com que dizemos “não”. Pelo contrário, tem a ver com estabelecer um acordo entre o desejo de um e desejo do outro, com sentido lógico para ambos. E para isso é necessária a capacidade para ouvir, certa dose de generosidade, reconhecimento das próprias necessidades e, depois, a comunicação verbal que legitima e estabelece o que estamos em condições de respeitar em relação ao acordo pactuado. Veremos que as lutas cotidianas se suavizam e que surge o verdadeiro sentido pessoal que a vida compartilhada com as crianças tem para cada um de nós. Façamos com que as miudezas da vida diária se transformem em um exercício invisível de amor."